sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

AJUDA POR UMA AJUDA!

Ao iniciar esse texto, o gênio me disse que “O esforço nunca é em vão”.
O gênio a que me refiro é o nome que o sistema operacional “windows” dá para um dos assistentes do Word, processador de textos que utilizo para as digitações que faço em meu desktop. O gênio é a figura de um velhinho de bigode e cabelos brancos e arrepiados com cara de Einstein que aparece toda vez que eu inicio um dos programas do pacote office. Ele entra por uma porta tomando uma xícara de café quente no canto direito superior da tela e fica parado olhando pra mim, sempre com alguma afirmação dentro de um balãozinho amarelo. Toda vez que cometo algum erro durante o trabalho ele entra em ação com alguma observação relevante, sempre querendo me ajudar.
Esse negócio de querer ajudar, atualmente é bem diferente de antigamente. Temo que se torne, por fim, algo realizado apenas por programas de computador, equipamentos eletrodomésticos, robôs, caixas eletrônicos e afins. Será esse nosso fim?
A última vez que perdi minha carteira com documentos e dinheiro foi dentro do ônibus. Dez horas depois de muita preocupação e oração toca meu celular. Logo minha esposa disse:
- “Olha aí, amor, deve ser alguém que encontrou sua carteira e está ligando por que viu seu telefone no cartão de visitas”.
Era meu sócio, seu nome e celular também estava no mesmo cartão dentro de minha carteira, bem como o de minha esposa com seu telefone. Em ambos os cartões estavam um quarto telefone em comum, o de minha casa.

Agora, pense comigo; se no RG, na CNH, no cartão do banco, no cartão de entrada de pedestre e de veículo do condomínio onde moro e no bilhete do ônibus, assim como no cartão de visitas estava escrito o meu nome, tinha o número do meu celular, assim como tinha o cartão da minha esposa com o seu sobrenome que é o mesmo meu, o seu celular e um telefone em comum; por que o sujeito que “teve a boa intenção de me ajudar” não ligou pra mim?
-Você perdeu sua carteira? Perguntou meu sócio.
-É verdade... peraí, como é que você sabe? Disse eu interrompendo.
-É que acabou de me ligar alguém dizendo que está com sua carteira.
-Diz-me onde é que eu vou buscar agora. Disse pegando um caneta pra anotar o endereço.
-Olha, ele só deixou um número de telefone celular e disse que está no ponto final do ônibus da linha x.

A resposta para a pergunta do por que não ligaram para mim é que na carteira havia dinheiro. A resposta é que ninguém consegue mais ser honesto por completo. É lícito dizer que o windows ajuda por que cobra pelo software e, primando pelo bom atendimento e “amigabilidade”, se esforça para facilitar a solução de impasses para seus usuários. É uma forma de ajuda-los, é mais que isso é parte de sua obrigação por fornecer um sistema passível de erro e que não é fornecido apenas para especialistas.

Agora, existe um outro tipo de ajuda que não se faz por obrigação, mas sim por vocação. É aquela que aprendemos através de nossos pais, faz parte dos hábitos e bons costumes de um povo, de uma cultura. É aquela ajuda que damos ao cego para atravessar a rua, para tomar o ônibus certo. É quando deixamos as damas irem primeiro. É quando ajudamos os senhores da “melhor idade” a carregar a sacola pesada pelas escadas do condomínio. É quando pegamos na mão das crianças para atravessarem a rua.

Para essas coisas não há lei.


Ou há?

Pensando bem há! E veja que é para as atitudes que se encaixam na mesma categoria daquelas para as quais não há lei de obrigação. É o banco para o idoso, gestante, mulher portando criança de colo ou deficiente fico no coletivo. É o idoso na fila do banco. É o coco do cachorro na área comum.

As leis surgem na medida de sua necessidade. Bom seria que preservássemos os bons costumes. Melhor seria se os pais ensinassem seus filhos desde cedo para que, no futuro essas leis se tornassem desnecessárias. Isso seria o fruto natural de uma sociedade “civilizada”. Daqui a pouco vamos precisar contratar estudiosos para criar regras de bons costumes por que já não conseguimos mais discernir o que viabiliza a vida em sociedade.
A pessoa que devolveu minha carteira com todos os documentos e sem o dinheiro, não olhou em meus olhos. Ao pegar minha carteira fiz a seguinte afirmação enquanto conferia seu interior, não querendo parecer que estava cobrando algo:
-Que bom que encontraram meus documentos! Esse negócio de perder documento é um transtorno e só o que eu ia gastar pela segunda via da CNH... aliás era mais ou menos o valor que tinha aqui...
-A sim! Disse rapidamente o fiscal do ponto final do ônibus – o cobrador que me entregou disse que chegou em sua mão assim.

Em casa houve um debate:

-Lembra daquele homem que encontrou um pacote de dinheiro e foi na polícia devolver? Vocês acreditam que a polícia ia devolver o dinheiro? Nem mesmo iam procurar o dono.
-Pode ser. Mas a atitude do homem não é perdida.
-Bobo ele. Se fosse eu teria ficado com o dinheiro pra mim.
-A, é bom saber! Vou tomar mais cuidado onde deixo minha carteira com dinheiro aqui em casa a partir de hoje.
-Bom, mas você é diferente. E aquele homem encontrou o dinheiro sem nenhum documento junto. Ele não sabia de quem era. Achado não é roubado.

Penso que todo ladrão também pensa que o achado não é roubado. Eles acham carros nas ruas sem ninguém dentro e levam embora, só para dar um exemplo. Há outro tipo de ladrão que lança lei para dobrar o próprio salário. Geralmente chamado de político, esse tipo de ladrão sabe que o dinheiro público está lá para ser utilizado e tem o poder de decidir o orçamento bem como seu salário. Às vezes ele pode se guiar por um pensamento do tipo: “aumento de salário através de lei sancionada, não é roubo”.

Pergunto: Será que é uma ajuda (verdadeira) quando se devolve a carteira faltando o dinheiro?
Poderia acontecer de a pessoa que encontrou a carteira e retirou o dinheiro, ao entregar a carteira para o dono, mentir, dizendo que encontrou do jeito que estava e desenvolver um discurso de bom moço mesmo tendo suplantado o que não lhe pertence.
Isso é uma regra deturpada, um valor distorcido. Os documentos eu devolvo, mas o dinheiro? Aí você já está pedindo muito né!

Meia regra não é regra!

Quem usa os documentos dos outros é bandido, criminoso. E quem usa o dinheiro dos outros não é?

Se tivesse algum cartão de crédito deveria ter sumido também, afinal de contas as lojas, de maneira geral, não pedem documento de identificação, o que facilita a atuação dos batedores de carteira. Quando as esposas vão ao shopping fazer compras com o cartão de crédito de seu marido, o lojista não pede documento e a esposa não é batedora de carteira.
Estão, aquele que encontra uma carteira com dinheiro e só devolve a carteira sem o dinheiro é o que? Bom moço? Não, é um bandido!
Não me peça para devolver a carteira de alguém que você encontrou com dinheiro, sem o dinheiro, vou te chamar de ladrão.
Meu dinheiro é suado amigo! Tenho dívidas! Tenho planos! Tenho família! Acredito que você também, mas isso não faz de mim um bandido caso eu encontre uma carteira que não é minha com dinheiro que não é meu.

Parece que essas coisas vão mudando aos poucos, sutilmente. Vamos aceitando um acréscimo aqui, uma perda ali. E nossos valores vão se distorcendo. Já faz tempo que o honesto é bobo. É certo entregar só os documentos e levar o dinheiro, afinal para ser bom assim, só através de uma recompensa que a pessoa se auto designa! Dá-me suas contas que eu furo a fila do banco pra você, pois eu já estou perto do caixa! Aliás, melhor ainda, manda sua avó no banco que a fila dela é bem menor! Você sabe com quem está falando?!

O prefeito de São Paulo, recentemente, expulsou de um centro médico aos empurrões e berros de “vagabundo” , um senhor que protestava por ter perdido seu emprego por causa de uma lei sancionada há um mês. Já pensou se essa nova visão sobre os desempregados pega?
Lembra do rouba, mas faz? Teve também o estupra, mas não mata!. Que tipo de concessão é essa? Onde vamos parar? Queremos uma cidade mais humana, mas que tipo de humano é que queremos nessa cidade?
Penso que ser humano não é o bastante; as cadeias estão cheias de seres humanos!. Ser civilizado é o caminho, ter valores absolutos é o certo.
Chega de concessões em nossos valores, não quero fazer acordo com bandido. Traficante que distribui cesta básica não pode ser modelo de pessoa boa, afinal ele já conquistou um poder excessivo por concessão do estado e o desgraçado que se alimenta de suas mão não tem como levantar sua voz por uma outra forma de justiça.

Ser bom é da natureza humana, assim como ser mau, mas, para vivermos uma sociedade mais justa, “o esforço nunca é em vão”

Termino com algumas frases que me ajuda a retomar os bons costumes e a integridade moral.

“faça aos outros aquilo que gostaria que fizessem a você”

“não julguem para que não sejam julgados, por que com o juízo com que julgarem, vocês serão julgados”


“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça porque eles serão fartos”.

“Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; não, não; pois o que passa daí, vem do Maligno”.

“Guardai-vos de fazer as vossas boas obras diante dos homens, para serdes vistos por eles; de outra sorte não tereis recompensa junto de vosso Pai, que está nos céus”.

“teu Pai, que vê em secreto, te recompensará”.

“Não ajunteis para vós tesouros na terra; onde a traça e a ferrugem os consomem, e onde os ladrões minam e roubam;mas ajuntai para vós tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem os consumem, e onde os ladrões não minam nem roubam. Porque onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração”.

“buscai primeiro o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas”.

“Peçam, e lhes será dado; busquem, e acharão; batam e lhes será aberto”.
Pois todo o que pede, recebe; e quem busca, acha; e ao que bate, lhe será aberto.
Ou qual dentre vocês é o homem que, se seu filho pedir pão, você dará uma pedra?
Ou, se lhe pedir peixe, lhe dará uma serpente?
Se vocês, que são maus, sabem dar boas coisas a seus filhos, quanto mais seu Pai, que está nos céus, dará boas coisas aos que lhes pedirem?
Portanto, tudo o que vocês quiserem que os homens lhes façam, façam também vocês a eles; porque esta é a lei e os profetas.
Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela; e porque estreita é a porta, e apertado o caminho que conduz à vida, e poucos são os que a encontram”.